Unção dos Enfermos

A IMPORTÂNCIA DA UNÇÃO DOS ENFERMOS PARA OS
DOENTES.

Anísio
Baldessin

Dentre todos os sacramentos, um dos que mais causa
discussão é sem dúvida o sacramento da Unção dos Enfermos. Uma das razões é que
este sacramento sempre foi visto como o sacramento do fim de
vida.

O novo ritual da Igreja, publicado e divulgado em
07 de dezembro de 1972, diz claramente que este sacramento não se deve ser
ministrado somente aos que estão em perigo de vida. Está presente no sacramento
da Unção dos Enfermos o propósito de ajudar as pessoas atingidas por limitações
físicas a superar os momentos de desânimo e de revolta, apelando para a fé e
convidando-as a viver cristãmente seu estado de enfermidade durante um período
de sua vida. Visto que a antiga denominação deste sacramento como sendo
Extrema Unção”, ou sacramento que deveria ser dado
em casos extremos, deu a este sacramento um conotação muito negativa que vigora
até os nossos dias.

Nesta reflexão, sem a pretensão de esgotar o
assunto tão amplo sobre o este sacramento, procurarei responder algumas
perguntas que são muito comuns. Acredito que, os agentes conhecendo um pouco
mais a fundo a importância da Unção dos Enfermos poderão divulgá-lo mais. Pois,
devemos divulgar o sacramento da Unção dos Enfermos como divulgamos os outros
sacramentos.

O que a Bíblia fala do
óleo?

O óleo, ou azeite, é fruto da oliveira. Era usado
para louvar a Deus, pois o derramavam sobre as ofertas a ele apresentadas. Os
antigos o usavam nas recepções e nos banquetes. O óleo deveria ser oferecido
primeiramente a Deus, em sinal de gratidão pelos favores recebidos do céu.
Quando alguém, em Israel, fosse escolhido para ser rei, sacerdote, ou profeta,
recebia a unção, isto é, derramava-se óleo em sua cabeça como sinal de escolha e
proteção. É o que podemos ver na escolha dos reis Saul e Davi.

O profeta Isaías diz: “O espírito do Senhor Deus
está sobre mim, poque o Senhor me ungiu”. Cristo, palavra que significa O
UNGIDO
, o escolhido por Deus para uma missão especial, retorna o texto
de Isaías para dizer que foi escolhido pelo Espírito Santo para uma missão. Não
se trata de pensar que o óleo seja apenas algo mágico que “fecha o corpo” contra
o mal. O óleo é um símbolo que transmite a força divina. Portanto, o óleo é
símbolo de força, resistência e missão. Sinal de vida e esperança, e não de
morte.

A Unção dos
Enfermos

O sacramento da Unção dos Enfermos, foi
tradicionalmente conhecido como “Extrema Unção”. Era administrada tão somente as
pessoas que estavam em fim de vida. Tal pratica associava a Unção dos Enfermos à
morte, deixando a impressão de que se tratava do sacramento dos que vão
morrer.

Na Epístola de Tiago (CT Tg 5, 14, 15) se declara
que a Unção deve ser dada aos doentes, para que os alivie e salve. “Alguém de
vocês está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que rezem por ele.
Ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. A oração feita salvará o doente. Salvar
no sentido bíblico, amplo, corpo e espírito. A oração em nenhum momento fala em
morte. O retorno a este sentido original leva a entender o sentido genuíno do
sacramento, isto é, sacramento dos doentes que, inclusive, esperam e confiam que
o sacramento os livre da doença.

Quem pode receber a Unção
dos Enfermos?

A resposta é simples: as pessoas com doença
crônica e grave podem receber. Quem não está doente ou sofre de doenças banais
que não implicam risco de vida, não deve receber a Unção dos Enfermos. As
pessoas de idade, que embora não estejam doentes, podem receber a Unção dos
Enfermos, desde que seu estado geral indique sensível declínio em suas forças
físicas. Em geral pessoas com mais de 60 anos de idade. Também antes de uma
operação cirúrgica pode ser dada a Unção dos Enfermos. Enquanto que as crianças
portadoras de doença grave também podem receber, desde que tenham o uso da
razão. Ou seja, a partir dos sete anos de idade.

Quem pode administrar a
Unção dos Enfermos?

Segundo a doutrina oficial da Igreja, só o Papa,
Bispos e os Padres, podem administrar este sacramento. Pode ser que, um dia, o
aprofundamento teológico do sacramento da Unção dos Enfermos chegue à conclusão
que este sacramento pode ser administrado por um leigo. Ainda não chegamos a
tanto.

Quantas vezes a mesma pessoa
pode receber a Unção?

Antigamente, as pessoas recebiam uma única vez.
Depois mesmo que ficasse gravemente doente não podia mais receber. Hoje, graças
aos avanços dos estudos teológicos, sabemos que este sacramento pode ser
repetido algumas vezes se o doente convalescer após ter recebido a Unção, ou
também, se perdurando a mesma doença, vier a encontra-se em situação mais grave.
Porém, não é preciso repetir toda semana. Sacramento não é um ato mágico como
disse no início.

Quando ministrar o
sacramento?

Muitos esperam que o doente entre em estado de
inconsciência para pedir a Unção dos Enfermos, alegando que ele poderá ficar
assustado com a presença do padre. Mas o ideal seria que o próprio doente
pedisse espontaneamente os sacramentos. Uma pessoa que vai passar por uma
cirurgia, pode tranquilamente pedir o sacramento da Unção dos Enfermos. Não se
deve administrar qualquer sacramento depois que a pessoa já morreu. Caso a
pessoa tenha morrido sem receber o sacramento, devemos acreditar que Deus têm
muitos meios de salvar as pessoas, que nós desconhecemos.

A quem administrar o
sacramento da Unção dos Enfermos?

Os sacramentos devem ser administrados somente às
pessoas que os querem, mesmo que sejam bispos, padres, freiras ou leigos
praticantes, pois as coisas de Deus devem ser assumidas em plena consciência e
liberdade. Caso o doente esteja inconsciente, pode administrar o sacramento
desde que se tenha certeza que ele receberia se estivesse em sã consciência.
Portanto, não podemos partir do principio que, se não fizer bem, mal não vai
fazer. É preciso que esteja presente o aspecto da fé. Pois a fé sem o sacramento
pode salvar. Mas, o sacramento sem fé, não faz sentido. Não é portanto a questão
de merecer ou não merecer, e sim acreditar. Para quem não acredita o sacramento
pode se tornar um ato mágico e sem sentido. Por isso não se deve administrar
para agradar os familiares e outros.

Portanto, vamos divulgar este sacramento, que é
sacramento de vida e não de morte.

Anísio Baldessin,
é padre camiliano, capelão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo.

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